24 janeiro, 2007

Babel

Dirigido por Alejandro González Iñárritu. Com: Brad Pitt, Cate Blanchett, Gael García Bernal, Adriana Barraza, Koji Yakusho, Rinko Kikuchi, Said Tarchani, Boubker Ait El Caid, Abdelkader Bara, Sfia Ait Benboullah, Mustapha Rachidi, Elle Fanning, Nathan Gamble, Clifton Collins Jr., Michael Peña.

Esse filme foi um dos que mais me atraiu para esse início de ano, mas com as várias resenhas e críticas dizendo que ele era ruim, comecei a achar que me arrependeria. Resolvi ir assistir um dia antes da chegada dos indicados ao Oscar para ver o que achava. O filme começa com um marroquino andando e chamando seu amigo para negociarem uma arma, que serviria para matar chacais e proteger as ovelhas e que por brincadeira a criança dispara um tiro que acaba acertando um ônibus atingindo Susan (Cate Blanchett) que estava no Oriente médio com seu marido Richard (Brad Pitt) para verem se a relação entre eles melhorava. Temos mais duas histórias muito interessantes: a da babá mexicana Amélia (Adriana Barraza) que iria ao casamento de seu filho até seu patrão informar que houve um incidente e ela não poderá ir e terá que cuidar dos filhos dele e ela por ímpeto acaba indo cruzar a fronteira mesmo assim e a de uma japonesa surda (Rinko Kikuchi) que é muito carente. O melhor desse filme é que todas as histórias têm certa ligação, a comunicação ou falta dela: normalmente pelo preconceito (mexicanos, terroristas, surdos). Nenhuma das histórias parece ser desnecessária e tudo no final se encaixa. Sem dúvida é muito complicado explorar um tema tão complexo e Guilhermo Arriaga faz com maestria. Sem apelar para o melodrama desnecessário, vamos acompanhando o filme e as quatro histórias distintas carregadas com uma carga emocional magnífica, que se forem avaliar cada história separadamente nos trás de volta para a realidade do mundo atual. Um ponto ótimo do filme é com certeza sua direção do mexicano Alejandro González Iñárritu (21 Gramas e Amores Brutos). Ele consegue fazer com que as histórias sejam muito bem conduzidas e não parecerem irreais. Eu daria como exemplo uma cena magnífica como mostra da ótima direção do mexicano: a cena em que a japonesa entra numa danceteria com a música September Ends tocando, e tem momentos em que o diretor resolve literalmente tirar o som e mostrar a visão da japonesa, isso mostrou a todos como é difícil lidar com isso, o maior dos silêncios. Todos os personagens conseguem ter um aprofundamento ideal, nos fazendo sentir por eles, até o menos importante da trama é bem esquematizado. Outro ponto alto do filme são os cortes de uma situação para outra, todos muito bem guiados. Sempre acabam quando algo de muito importante acontece e volta com outra história que não se torna só um pano para fazer o filme ficar mais longo, mostrando o mesmo interesse de antes. Isso me lembrou dos cortes do terceiro episódio de Senhor dos Anéis.

Rinko Kikuchi, show de atuação

Tecnicamente o filme conta com uma das melhores montagens do ano tendo um plano sempre magnífico com cortes mais do que sensatos, a fotografia é simples, mas ajuda quando é necessária. De vez em quando nos deparamos com a fase de um compositor cuja a qual as trilhas que ele compõe soam muito parecida com seu trabalho anterior. Isso acontece com Santaolalla que em suas últimas trilhas usa o mesmo instrumento, a viola. Ele utilizou desse instrumento em Diário de Motocicleta, Brokeback Mountain e agora novamente em Babel e sempre surpreende na música final dos filmes como, por exemplo, na "The Wings" e acontece o mesmo em Babel. Comparando as duas últimas trilhas dele, prefiro a de Babel por se encaixar perfeitamente na trama, mas acabo de fechar a tese que Santaolalla só faz bem a parte final do filme, sendo um compositor limitado mesmo tendo feito um trabalho espetacular por Babel. As atuações do elenco desconhecidos são mais que fabulosas, desde o senhor que vende a arma até as crianças. Dou destaque para a maravilhosa Adriana Barraza, a ótima (a melhor do elenco) Rinko Kikuchi e ao ótimo Brad Pitt, que nos entrega sua melhor atuação. No final do filme, o diretor deixa algumas lacunas que podemos concluir por nós mesmos, fazendo com que muitos saírem da sala odiando o filme, mas eu senti no fundo de minha alma o que o diretor propôs e com a ajuda magnífica de Santaolalla, fez muita gente se emocionar com o fim desse filme. Muitos chamaram Iñárritu de preconceituoso com sua própria pátria, não concordo com isso, afinal parece que o filme vai se desenrolando que tudo o que acontece é uma conseqüência da anterior. Realmente, não chega a tanto para ser melhor que Os Infiltrados, mas é uma ótima película, com um tema muito importante e capaz de vencer o Oscar de Melhor Filme e se isso ocorrer será a prova de que a linguagem do filme não influencia pois todas as narrativas do filme estão interligadas e cativam com a mesma intensidade.

Nota:

Critica de Rodrigo Mathias