Babel
Esse filme foi um dos que mais me atraiu para esse início de ano, mas com as várias resenhas e críticas dizendo que ele era ruim, comecei a achar que me arrependeria. Resolvi ir assistir um dia antes da chegada dos indicados ao Oscar para ver o que achava. O filme começa com um marroquino andando e chamando seu amigo para negociarem uma arma, que serviria para matar chacais e proteger as ovelhas e que por brincadeira a criança dispara um tiro que acaba acertando um ônibus atingindo Susan (Cate Blanchett) que estava no Oriente médio com seu marido Richard (Brad Pitt) para verem se a relação entre eles melhorava. Temos mais duas histórias muito interessantes: a da babá mexicana Amélia (Adriana Barraza) que iria ao casamento de seu filho até seu patrão informar que houve um incidente e ela não poderá ir e terá que cuidar dos filhos dele e ela por ímpeto acaba indo cruzar a fronteira mesmo assim e a de uma japonesa surda (Rinko Kikuchi) que é muito carente. O melhor desse filme é que todas as histórias têm certa ligação, a comunicação ou falta dela: normalmente pelo preconceito (mexicanos, terroristas, surdos). Nenhuma das histórias parece ser desnecessária e tudo no final se encaixa. Sem dúvida é muito complicado explorar um tema tão complexo e Guilhermo Arriaga faz com maestria. Sem apelar para o melodrama desnecessário, vamos acompanhando o filme e as quatro histórias distintas carregadas com uma carga emocional magnífica, que se forem avaliar cada história separadamente nos trás de volta para a realidade do mundo atual. Um ponto ótimo do filme é com certeza sua direção do mexicano Alejandro González Iñárritu (21 Gramas e Amores Brutos). Ele consegue fazer com que as histórias sejam muito bem conduzidas e não parecerem irreais. Eu daria como exemplo uma cena magnífica como mostra da ótima direção do mexicano: a cena em que a japonesa entra numa danceteria com a música September Ends tocando, e tem momentos em que o diretor resolve literalmente tirar o som e mostrar a visão da japonesa, isso mostrou a todos como é difícil lidar com isso, o maior dos silêncios. Todos os personagens conseguem ter um aprofundamento ideal, nos fazendo sentir por eles, até o menos importante da trama é bem esquematizado. Outro ponto alto do filme são os cortes de uma situação para outra, todos muito bem guiados. Sempre acabam quando algo de muito importante acontece e volta com outra história que não se torna só um pano para fazer o filme ficar mais longo, mostrando o mesmo interesse de antes. Isso me lembrou dos cortes do terceiro episódio de Senhor dos Anéis.
Rinko Kikuchi, show de atuação
Tecnicamente o filme conta com uma das melhores montagens do ano tendo um plano sempre magnífico com cortes mais do que sensatos, a fotografia é simples, mas ajuda quando é necessária. De vez em quando nos deparamos com a fase de um compositor cuja a qual as trilhas que ele compõe soam muito parecida com seu trabalho anterior. Isso acontece com Santaolalla que em suas últimas trilhas usa o mesmo instrumento, a viola. Ele utilizou desse instrumento em Diário de Motocicleta, Brokeback Mountain e agora novamente em Babel e sempre surpreende na música final dos filmes como, por exemplo, na "The Wings" e acontece o mesmo em Babel. Comparando as duas últimas trilhas dele, prefiro a de Babel por se encaixar perfeitamente na trama, mas acabo de fechar a tese que Santaolalla só faz bem a parte final do filme, sendo um compositor limitado mesmo tendo feito um trabalho espetacular por Babel. As atuações do elenco desconhecidos são mais que fabulosas, desde o senhor que vende a arma até as crianças. Dou destaque para a maravilhosa Adriana Barraza, a ótima (a melhor do elenco) Rinko Kikuchi e ao ótimo Brad Pitt, que nos entrega sua melhor atuação. No final do filme, o diretor deixa algumas lacunas que podemos concluir por nós mesmos, fazendo com que muitos saírem da sala odiando o filme, mas eu senti no fundo de minha alma o que o diretor propôs e com a ajuda magnífica de Santaolalla, fez muita gente se emocionar com o fim desse filme. Muitos chamaram Iñárritu de preconceituoso com sua própria pátria, não concordo com isso, afinal parece que o filme vai se desenrolando que tudo o que acontece é uma conseqüência da anterior. Realmente, não chega a tanto para ser melhor que Os Infiltrados, mas é uma ótima película, com um tema muito importante e capaz de vencer o Oscar de Melhor Filme e se isso ocorrer será a prova de que a linguagem do filme não influencia pois todas as narrativas do filme estão interligadas e cativam com a mesma intensidade.
Critica de Rodrigo Mathias